Narrado por Melissa.
Quando descobri que Nicole seria especial confesso que senti receio, já que deixaria de lado as coisas que fazia normalmente mesmo tendo Breno com 2 anos e meio de vida. Nicole precisaria de cuidados especiais, atenção dobrada, não sei se estaria preparada para deixar meu emprego, minhas saídas e minha especialização, com 25 anos teria minha vida jogada para o alto assim, era difícil aceitar.
Lá em 2013, quando sai do interior de São Paulo, com 19 anos e apenas minhas malas, e o orgulho de mim mesma, 3 anos de estudos que vinham valer a pena. Tinha ideia de que havia perdido o conforto de casa e teria de encontrar a realidade na cidade grande, morando em um alojamento que a própria faculdade oferecia a alguns alunos que moravam longe e não tinham condições de pagar algum apartamento por ali.
Conheci Luan oficialmente quando fazia estádio na Caldi Comunicações, em uma festa para ser exata. No começo éramos amigos, muito amigos mesmos, o que me proporcionou coisas boas, já que Luan foi responsável por eu ter conseguido um emprego na LS Music, e com o salário que ganhava ali, consegui alugar um apartamento não muito longe da faculdade.
Nos casamos dia 05 de Dezembro de 2016, grávida de 6 meses, esperava Breno, que veio ao mundo no dia 04 de Abril de 2017. Éramos uma típica família feliz, Luan e eu quase nunca brigávamos, sempre nos amamos o bastante.
Mas essa história só começa a ganhar sentido no final de Novembro de 2018, assistíamos a final de um jogo de futebol quando me senti mal, e passei a suspeitar que estava grávida, e para tirar minhas duvidas, fui até a farmácia no outro dia pela manhã comprar teste de gravidez. E o mesmo confirmou minhas suspeitas, estava grávida novamente.
Não era nada planejado, Luan vinha com a ideia de ter outro filho, mas achava cedo, já que Breno ainda tinha 2 anos e meio. Tive problemas, sofri com enjoos frequentemente, até o cheiro do meu marido me causava náuseas. Ao sexto mês de gestação descobri que tinha diabetes gestacional, por isso tirava sangue com frequência.
Não tinha tanta preocupação igual a quando estive grávida de Breno, me sentia confiante, tudo daria certo.
Quando cheguei a 36 semanas de gestação, fui a mais uma consulta, quando minha médica notou algo diferente nos batimentos do coração. Antes mesmo do ultrassom acontecer, minha pequena não se aguentou e quis vir conhecer o mundo.
Minha bonequinha nasceu no dia 14/07/2019, às 09:40, com 47cm e 3.500Kg.
Ao contrário de tudo que senti do Breno, Nicole havia sido mais tranquilo, o que me deixava bem aliviada.
— Olha quem veio vê-la — E ali entrou meu marido todo sorridente com a nossa segunda herdeira, e ali lembrei-me de quando tive Breno, e uma felicidade tamanha tomou conta de meu peito. Não havia notado algo de estranho, ela tinha a cara do pai, assim como Breno.
— Olha a boneca da madrinha — Bruna entrou saltitante no quarto com o celular, mostrando algumas fotos, e foi ali que despertei-me, ela era diferente.
— ela é diferente, não? — Perguntei para a enfermeira que havia vindo ajudar-me a amamenta-la.
— Não senhora Santana. — Parecia que ninguém tinha o que dizer, nem os médicos, muito menos as enfermeiras. — ela não pega — disse com receio.
— já tentou ajudá-la?
— já — olhei minha pequena boneca, tão delicada.
— tente novamente — e eu coloquei meu peito em sua boca, mas a mesma não sugava, e eu tinha medo de apertar meus seios, se algo acontecesse com ela me culparia até o fim da vida.
— vamos levá-la para alguns exames — A enfermeira levou minha menina, e pela manhã seguinte a doutora veio me informar que pela dificuldade que tive de amamenta-la isso a causou uma hipoglicemia.
— podemos ir para casa?
— nós sim querida — Luan sorriu forçado.
— então vamos, temos que esperar trazerem Nicole.
— esse é o problema, ela terá que ficar internada recebendo oxigênio, devido a um pequeno probleminha no coração.
— mas — senti meus olhos queimarem, Nicole não tinha nem 2 dias de vida direito e já passava por isso.
— é até seu probleminha passar amor, você vai ver, logo, logo ela está dormindo no quartinho que preparamos a ela.
Não existia coisa pior do que você mãe, sair do hospital e ter a notícia que sua filha ficaria ali, eu a queria comigo, com Luan e nossa família, mas no momento aquilo não seria possível.
Notas da autora:
Estava cansada das histórias monótonas onde os protagonistas sempre são o Luan, e algum amor que se envolve durante a trama. Gosto de me arriscar, gosto de coisas novas, e por que não escrever uma história diferente? Onde a família perfeita para comercial de margarina exista mais de um jeito único e especial.
Quero tratar do preconceito que acontecem com algumas famílias, que chegam até abandonar essas crianças, mas espero que Luan e Melissa os inspire, assim como a história da minha professora foi capaz de me inspirar.
- Natália de Andrade.